Nasci em um vilarejo perto das Terras Secas... Longe das Terras de Pedra, nas Terras do Verde.
Compartilhava a floresta com o restante de seus naturais, sob a sombra das montanhas rubras, num pequeno bosque. Ilhado numa pradaria extensa na qual poucos de nós se aventuravam, por conta dos coiotes que espreitavam à noite e as criaturas mal encaradas que habitavam aqueles campos.
Tínhamos nossos costumes, nossos modos de ser, nossas canções e danças... nossas tradições... mas isso há muito tempo atrás. Não sei quando nem como, na verdade ninguém de meu povo sabe... apenas aconteceu... Num passado incerto algum dos nossos ancestrais nos abençoou, ou amaldiçoou, com o poder das feras...
Nos tornamos quase tão animais quanto as próprias criaturas do bosque. Nos transformamos em parte da floresta... nos transformamos em selvagens! Algumas famílias já perderam seu juízo e perambulam, pelas árvores ou pelo campo, caçando, como verdadeiros animais... Por algum motivo eu sou diferente...
Reuni alguns de nosso povo, que ainda podiam raciocinar, e ainda vivemos com parte de nosso antigo modo de vida, lutando, com tristeza em nossos corações, contra alguns dos antigos nossos que vinham roubar nossa comida ou alguma de nossas crianças desprotegidas.
Parti, avançando sobre os ermos campos secos, e sobre os corpos daqueles que se opuseram a minha fúria, buscando ajuda para minha raça... Ou conselhos de um sábio amigo. Meu povo não tem condições de seguir-me e é por isso que caminho só... com o vento a açoitar meus fartos cabelos, e a relva a roçar em minhas pernas. Carrego comigo o meu e outro espírito que consegui, com árduo esforço, controlar, mas que em momentos de descontrole nem mesmo eu posso derrotá-lo.
Já caminhei por alguns povos de pedra, e alguns do verde como o meu. Encontrei estranhas coisas em meu caminho, coisas que não conhecia... e que agora temo.
Minha história não pode terminar antes de eu encontrar a salvação para o meu povo. Tenho que poder retornar antes que todos tenham tornado-se em feras incontroláveis. Busco ainda por pistas... e já descobri algumas... mas nada muito conciso.
Preciso da verdade que os homens talvez já desconheçam.
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