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13 de agosto de 2013

Conto - Invasão de Birkanturg

Gelo, honra e sangue

Um dia frio. Um cavaleiro aproximava-se ao longe, sob a chuva que chapinhava seu caminho e enlameava sua túnica. Trazia consigo uma mensagem terrível: O rei Golverberix havia falecido. As rédeas em suas mãos queimavam como brasa por conta dos dias que passara cavalgando.

De cima das muralhas baixas do forte um homem avistou o cavaleiro e, reconhecendo o símbolo manchado de sangue e lama em sua túnica, correu para os portões ordenando que os abrissem.

Soldados aglomeraram-se ao redor da grande entrada de pedra, e ergueram as grades levadiças, fazendo suas correntes rangerem estridentemente. A água pingava e escorria e o alarido dos homens atarefados com as correntes e trancas de madeira encheram o ar. Logo todos os soldados do forte prestavam atenção no portão do Oeste.

O cavaleiro, ao entrar, despencou de seu cavalo. Uma ferida profunda tentava roubar-lhe a vida. Suas luvas e mãos estavam rasgadas e ensanguentadas.

- Chamem um curandeiro! – Gritou um dos soldados. Enquanto o capitão de Birkanturg, se aproximava.

Berrik abaixou-se ao lado do cavaleiro moribundo para retirar sua bolsa de mensageiro. O homem ergueu os olhos para o capitão neste momento, agarrando sua túnica com força. O capitão levou a mão à espada, mas o homem caiu morto novamente, antes que o aço pudesse deixar a bainha.

- Pelos deuses! – Exclamou Berrik assustado.

- O que diabos foi isso senhor? – Perguntou uma voz de detrás dele.

Aguardando mais alguns instantes o capitão voltou a retirar a bolsa do pescoço do homem morto. Afastou-se e leu a carta em voz alta, enquanto o curandeiro, com suas túnicas brancas corria em direção ao monte de homens para verificar o corpo do sujeito que chegara moribundo.

As letras foram escritas rapidamente e estavam manchadas e borradas por causa da chuva, mas sua mensagem terrível ainda podia ser compreendida. North-Rowüll fora conquistada,  o rei do norte estava morto, Golverberix lutou bravamente contra os invasores sulistas e faleceu no acampamento deles, como um inválido. Sequer tivera a honra de morrer lutando. Morreu para aprazer a sede de sangue dos homens que querem terras.

- Nós vamos vingar a morte de nosso rei! – Rugiu Berrik furioso. Sua carranca de fúria se contorcia sobre as gotas grossas de água que voltavam a cair.

Os homens bradaram junto com ele.

- Gelo! Honra! Sangue! – Gritaram os soldados, urrando o lema de seu povo. – GELO, HONRA, SANGUE! – Eles fizeram a fortaleza reverberar com o rugido de seus corações e o restumbante som do aço sobre a madeira de suas espadas e escudos.

~*~*~*~

No fim do mesmo dia já se ouviam os tambores do inimigo ao longe, e o vozerio da tropa que se aproximava. Cerca de dois mil homens bradavam e cantavam vindos do leste.

- Estes vermes carregam em suas costas o peso das almas de nossos homens e mulheres! – Gritou Berrik de cima das muralhas. – Vamos fazer a eles o favor de retirar esse pesado fardo, cortando suas gargantas, e arrancando suas vísceras com nossas espadas! Vamos deixá-los experimentar o gosto de nosso aço! – Rugiu novamente, e com ele seus soldados.

A chuva caía numa torrente incessante, encharcando os homens. Suas armaduras retininam com as gotas, e a visão se turvava a distância. Mas o vermelho-sangue do uniforme inimigo destoava da paisagem nevada no sopé da montanha onde se escondia o forte. Lá dentro organizavam pequenos grupos e preparavam-se para o combate iminente.
Contudo os corações duros e gelados dos homens do norte clamava pelo sangue de seu inimigo. E quando este arremeteu contra as muralhas de Birkanturg os nortenhos fizeram chover junto com a água, flechas, e o sangue começava a empoçar-se no chão, e correr para baixo nas fendas da rocha.

Com os escudos erguidos tentavam proteger-se das flechas, ao mesmo tempo que tentavam romper o portão. O ranger da grande porta unia-se ao cântico fúnebre que erguia-se da montanha. Logo o fogo tomou conta de dentro e de fora do forte. O fogo mágico que a chuva não bastava para apagar. Foi quando recuaram para descansar depois do combate do dia.

Os homens recolheram seus corpos para dentro das muralhas, aqueles que tinham sido abatidos pelos magos ou pelos arqueiros inimigos, cuja vida já não podia mais ser salva, mas saudada com glória pela coragem e honra de lutar na guerra que os libertaria das garras do povo do sul.

Os xamãs de seu povo apagaram os fogos e cuidaram dos feridos. O exército inimigo voltou a reunir-se na base da montanha, e Berrik convocou suas poucas centenas de homens que tinham restado daquele dia sangrento. E que certamente não restariam num segundo dia, e os convocou para atacar. E extirpar da terra o máximo de homens que fossem capazes.

Passaram algumas horas preparando os funerais dos falecidos, prestaram-lhes as homenagens devidas dentro do costume de seu povo e partiram. Com a benção de seus deuses esgueiraram-se portão afora, e correram pelas montanhas em silêncio caindo com suas armas em chamas sobre seus inimigos que dormiam.

Não houve tempo de aviso. Os soldados de Birkanturg entoaram sua canção de guerra, e como um trovão devastaram o exército inimigo. Os deuses os acompanharam, pois os céus negros da noite tinham obscurecido sua presença para seus inimigos. E apenas quando os relâmpagos cortavam o céu nebuloso era que as carrancas de fúria dos homens do norte eram vistas, cada vez mais ferozes.

Cada vez mais terríveis.

Os relâmpagos mostravam os mortos, e logo o fogo os iluminava. Os magos inimigos reuniram-se no centro do acampamento, e logo foram cercados pelos soldados que tentavam se juntar e se por à postos, em formação.

Trovões atingiram o acampamento, e explodiram em luz e chamas. Os feiticeiros trataram de afastar as descargas, enquanto numa única investida conduziram seus soldados à frente. Um a um os nortenhos caíram. A chama de seus olhos extinguia-se, suas armas deixavam seus punhos, e a glória da guerra os alcançava.

A morte valorosa que tanto esperavam aproximou-se deles na forma de escudos e lâminas. Era o fim da guerra. Birkanturg caíra. Assim como o rei, assim como o restante de todo o norte.

Berrik vislumbrou o trovão que atingiu o centro do acampamento inimigo, assassinando os magos e guerreiros que lá estavam. E satisfez-se com os dezesseis homens que matara antes de ser atingido pela espadada mortal em sua nuca. Sempre desleais, pensou, enquanto o chão e as trevas se aproximavam. Ouviu um último trovão antes de unir-se aos deuses e a seu antigo rei.

Gelo, honra e sangue!

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