Sugestões, Pedidos e Dúvidas

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30 de setembro de 2017

O começo do fim

A criação de nosso mundo se deu com a chegada de dois poderosos irmãos ao nosso planeta. Os gêmeos Hironill e Arthanór, que decidiram se estabelecer aqui durante algum tempo. A massa energética, a princípio, resumia o planeta que um dia seria conhecido como Terra. Tamanho poder chamou a atenção dos dois virtuosos controladores.
Moldaram então o mundo a seu desejo, nada lhes era mais prazeroso. Juntos controlavam o infinito, e suas disputas de poder, quando ocorriam, levavam milênios.
Com seus poderes, juntos, transformaram a energia em água, fogo, terra e ar.
Primeiramente a terra, que daria suporte ao restante. Metamorfosearam parte da poderosa energia em rocha irregular, criando uma enorme superfície a qual, em seguida, cobririam com água, preenchendo os espaços entre os picos pedregosos. No espaço restante puseram o ar, que soprava em todas as direções movimentando a água e tangendo a rocha. Os irmãos puseram o fogo, então, sob tudo aquilo. O elemento mais rebelde, que anseia por espaço para reinar. Durante algum tempo o espaço reservado a ele fora o bastante, mas logo tentou sair, abrindo caminhos através da rocha e jorrando para a superfície.

O mundo conservou-se assim durante muito tempo. Os irmãos assistiam àquilo fascinados, orgulhosos de seu trabalho.
Até que, de uma fonte desconhecida, uma tempestade atormentou a Terra. Enfureceu os elementos, e em frente aos irmãos surgiram duas mulheres.
Como se desabrochassem do nada surgiram Neya e Teya. Elas foram tomadas por Hironill e seu irmão, e por eles educadas, moldadas como a energia para agirem da forma que seus maridos ordenavam. Eles as concederam também a arte da modelagem multiversal e as ensinaram a forma apropriada de fazerem isso: através da magia. Dessa forma, Neya desenvolveu o poder da cura e Teya o poder da morte, mas nenhum desses poderes era útil se não havia nada o que curar ou o que matar.
Começaram então a providenciar isso.
Entretanto, antes de se ocuparem com o povoamento do planeta, tinham de deixar alguém tomando conta dos elementos, para que não se revoltassem novamente.
Foi quando tiveram uma idéia. Invocaram o poder primordial de cada um dos elementos e os transformaram em poderosas entidades que os controlariam.

Tendo então o planeta sob controle iniciaram a reprodução, gerando outras criaturas, outros deuses e estes novos deuses, mais deuses... A magia teve um papel importantíssimo nisso tudo, e os descendentes dos Criadores, como eram chamados, começaram a modelar o mundo também. Desenvolviam novas técnicas de magia, criavam novas raças, novas espécies. Alguns deuses criaram os metais, outros a madeira, as árvores, os animais, os minérios... tudo!
Passeavam pela terra recém criada, caminhando pelo mundo quando quisessem. Criaram os orcs, elfos, anões, halflings, gnomos, fadas, e tudo que a criatividade os permitia, não passavam de crianças engenhosas em busca de diversão.
Assim o mundo começara a formar-se de fato. Rusticamente.
Alguns dos seres primordiais receberam doses extras da magia inconstante que pairava sobre a terra tornando-se tão poderosos quanto os deuses menores, filhos do duplo casal gêmeo.

Durante esta época ergueram Athnarda onoe Varinn, como denominaram sua cidade e de lá observavam o que se passava no mundo habitado por seus brinquedos, vez ou outra interferindo em suas vidas.
Hironill e seu irmão não alteraram mais de forma alguma o mundo, pois seria desleal com seus filhos, já que eles eram portadores de tanto poder.
Porém, sem que ninguém soubesse além de sua mulher, que o ajudou, Arthanór criou uma raça extremamente poderosa. Com características superiores a qualquer outra já criada por seus descendentes. Seus corações foram criados com puro ódio e vilania, o desejo de sangue era ilimitado e insaciável.
Essa raça tornou-se o exército particular de Arthanór que os fez marchar sobre toda a terra, caçando, matando e aniquilando tudo que fora criado até então. Os deuses irritadíssimos com o egoísmo de seu ascendente reclamaram a terra de volta, mas Arthanór apenas os ignorou. Correram então à procura de Hironill, que veio juntar-se a eles para saber o que acontecia.
O deus da justiça ficou ao lado dos filhos, que apontavam Arthanór como um traidor egoísta. E foi com isso que uma nova guerra começou. A primeira guerra a envolver tantos indivíduos, mas apenas mais uma na incontável lista de duelos entre os irmãos, que sempre terminavam em empates.

A disputa rachou montanhas, dividiu mares, parou o vento e atiçou o fogo. Os disparos de energia rompiam com a capacidade de compreensão dos mortais que assistiam, e participavam do combate, adotando um lado contra o qual lutar.
Os irmãos lutavam vorazmente com suas armas divinas que foram forjadas durante os milênios que se sucederam à Tempestade. Teya chacinava seus oponentes, arrancando-lhes a vida que tinham e transferindo-os para seu lado, na forma de aliados espectrais. Neya lutava para manter vivos os feridos que desfaleciam, e lançava-os de volta ao combate.
Deuses e mortais caíram aos milhares na Grande Guerra, e jamais voltaram a viver. O sangue manchou o planeta, seu campo de batalha, e incrustou-se nas camadas mais profundas da terra.
Foi quando Hironill teve um plano. Pediu para que alguns de seus descendentes buscassem os elementais, e selassem seus espíritos nas preciosas pedras que lhes servia de coração. Seus artífices trabalharam em cinco poderosas armas, quatro delas acomodariam os elementais. E a espada, que era a quinta, alojaria o poder de Arthanór, para que este nunca mais pudesse usá-lo para o mal.
Os deuses obedeceram a seu pedido e buscaram durante décadas pelos quatro espíritos primordiais. Enquanto isso Hironill resistia às baixas em seu exército ao lado de sua mulher e seus descendentes. Arthanór e Teya ansiavam pela aniquilação das raças frágeis criadas por seus parentes, e regozijavam-se pelas mortes e pelas vidas que deixavam o lado do irmão para juntarem-se ao deles, na forma espectral da morte tão bem controlada por sua deusa.

Em dado momento, anos mais tarde, quando a guerra estava prestes a ter um fim, Hironill, trazendo consigo a espada mais poderosa já forjada, seguido por outros quatro deuses que empunhavam os artefatos portadores das forças mais extraordinárias, avançou sobre o campo sangrento em direção a Arthanór.
O deus sobressaltou-se ao avistar os elementos ao lado do irmão e tentou fugir. Mas era tarde demais, o poder imensurável das armas insólitas devastou o campo, enquanto Hironill pisoteava o exército mortuário de seu irmão investindo contra ele.
Hironill segurava a espada apontando na direção do peito de Arthanór. Tão leve, tão resistente, tão maleável e tão destrutiva. Seguido por seus filhos e sua mulher não preocupou-se com o exército que se opunha a ele. Este fora dizimado, não importava quantas vezes fosse ressuscitado.
Vulcões irrompiam dos lugares atingidos pelo machado portador da pedra do fogo, furações se formavam no rastro dos projéteis disparados pelo arco de vento. O martelo criava terremotos e fissuras enormes ao colidir-se com o chão, o tridente, terremotos e tempestades.
A espada segura por Hironill silvava de excitação, pois sabia que sua sina seria sanada.
Seu fado fora predito durante sua forja. As inscrições no aço definiam seu emprego. O metal desejava isso, o metal ansiava pelo sangue divino do perverso, e cruel, Arthanór.
Mal sabia Hironill que com aquele golpe esgotaria quase por completo a energia do multiverso. Afinal, ele e seu irmão eram, em suma, a própria energia criadora de tudo.

O golpe certeiro atingiu o coração de Arthanór. Os planos vibraram com o impacto, o multiverso sentiu a energia que o nutria sendo dragada rapidamente pela lâmina da espada, indo depositar-se na grande pedra lilás incrustada em seu punho.
Sóis e estrelas faleceram junto à força de Arthanór. Planos se aglutinaram transformando-se em apenas um, sem força para manterem-se separados. Teya gritou agonizante e contorceu-se de dor e sofrimento. As sombras dos derrotados se desfizeram e se recolheram ao plano dos mortos.
Os corações dos elementais se soltaram das quatro armas, tal como a pedra que aprisionara o poder de Arthanór, e saltaram para o céu.
O fluxo descomunal que percorrera o fio da espada rompeu-a em seis pedaços, sem contar com o punho que era o sétimo, preso nas poderosas mãos de Hironill.
Uma explosão de cores ofuscou a todos no campo de batalha que era o mundo, quando o único ponto de luz que eram as cinco pedras, bem alto, a voarem para o céu rebentou em todas as direções reorganizando as estrelas e os astros celestes. Elas despencaram de volta na terra e nunca mais foram encontradas por nenhum deus.
Enquanto Hironill regozijava-se pela vitória sobre seu irmão maléfico, não notou que parte de seu poder também fora dragado pelo vórtice mortuário.
Então, o corpo impotente e furioso de Arthanór, sua mulher Teya e sua cria vil de Demônios e outros lacaios, foram encarcerados sob o fogo da Terra, em Tenterus ono Etherus Prisnaon. Onde os mortos, maus em vida, eram aprisionados. Onde o poço dos mortos acolhe as almas ruins e as lava num eterno turbilhão de dor e agonia.

Hironill, Neya e seus descendentes retornaram à Athnarda onoe Varinn, e criaram os humanos e os dragões. Com a força que lhe restava, Hironill requintou e aperfeiçoou as duas raças, tornando-as poderosíssimas criaturas. Incumbiu-as de proteger o planeta contras as investidas de Arthanór, pois o supremo deus da bondade proibira terminantemente que qualquer outro deus interferisse na Terra, dando livre arbítrio a seus títeres.

Infelizmente, a bondade de Hironill o cegara para a possível desvirtuação de suas criações. Assumindo que seriam boas como ele, e nunca tendo criado nenhuma outra raça antes, esqueceu-se de privar-lhes da ganância, do ódio, da inveja, da avareza.
E assim o mundo evoluiu. As sociedades se formaram, criaram impérios, misturaram culturas e mesclaram-se, as raças. Até que os humanos desejaram mais, mas não havia mais o que tomar... Teriam de ficar com o dos outros, e sua sede por poder e a corrida por riquezas inundou seus espíritos e logo deram vazão aos outros sentimentos ruins, engatilhando a corrupção de suas almas, e estas começaram a tender para o caos.

Milhares de anos se passaram. Tempo o bastante para que o ritual de sacrifício se concretizasse e para que a busca de Arthanór no mundo material se completasse.
Ao aceitar a morte eterna de sua esposa para dar-lhe seu ínfimo poder, o deus conseguiu romper o véu que o separava do mundo material e dominar o corpo de um humano. Tamanha fora a humilhação sentida ao dominar um ser criado por seu irmão que quase desistiu de seus planos. Mas ao notar a versatilidade daqueles seres bípedes, e a tendência de suas almas a vilania, tomou gosto por sua labuta.
Vagou pelo mundo inteiramente absorto em sua busca. O poder lhe chamava, a força de seu coração o guiava, e encontrou a pedra lilás.
Foi quando Hironill percebeu a presença de seu irmão no lar de seus protegidos e o trancou de volta no Submundo, reforçando as saídas e entradas para que o maléfico deus jamais deixasse o mundo inferior novamente.
Porém...
Hironill não notara a pedra escondida nas mãos do irmão. Este voltou felicíssimo para o mundo inferior, de volta em seu próprio corpo, com a pedra que aprisionara seu poder, agora aprisionada em seus dedos.
Arthanór lançou-se contra as barreiras mágicas que o encarceravam naquele lugar, certo de que seu poder, contido na pedra, seria mais que o suficiente para superar meras paredes criadas por seu gêmeo.
Assustou-se a ricochetear no muro invisível e retornar ao Submundo. Furioso, repetiu o golpe, apenas para que a mesma cena se repetisse.
Olhou para a pedra segura em seus dedos rijos, suas sobrancelhas encontrando-se numa carranca de amedrontadora fúria. A jóia refletia levemente o mar de fogo que era o céu de seu mundo particular e tênue luz esverdeada que advinha do poço dos mortos, e a agudeza com que terminava abruptamente fez Arthanór chegar à óbvia conclusão: A pedra fora partida.
O urro teria sido ouvido em todo o multiverso, reverberando pelo ar e açulando os véus de divisão dos planos. Mas apenas ele e a escória de demônios que o seguia escutaram seu brado de frustração. O grito resumia em uma única nota todo o furor de sua alma, toda a vontade de se libertar, todo o ódio acumulado, a fúria pela morte vã de sua mulher, a fúria pela perda de tudo o que tinha. O desejo de se vingar de seu irmão e de todos que a ele estavam ligados... TODOS! Gritou novamente.

Outros anos se passaram, e era inacreditável como aqueles seres bestiais e agressivos que seu irmão tinha criado se tornaram tão requintados e civilizados. E claro, mais bestiais e agressivos. As sociedades que construíam. As cidades que erguiam... deixavam as cabanas de lado e trabalhavam em casas de pedras.
Arthanór assistia a tudo isso enquanto arquitetava seu plano de fuga, tinha tempo mais do que de sobra para pensar e trabalhar seu plano. Sem ter sido sua intenção, seu corpo deixou o Submundo e invadiu o sonho de um homem. Ele a princípio não compreendeu, mas então percebeu que não passava de uma projeção astral produzida pela jóia que manuseava.

E foi assim que o poderoso Arthanór pôde um dia começar sua busca pela libertação, e retornar ao mundo para vingar-se de tudo que o fizeram. E foi quando as gigantescas guerras começaram a lotar seus salões de almas sujas e peçonhentas, bem como as quais mais se identificava.

O homem que selecionara era um poderoso general. Comandava suas tropas de trás das muralhas de sua cidade. Em meio à guerra, ele ouviu o chamado de Arthanór. Foi numa noite de cerco, quando suas tropas caíram aos montes, que enquanto dormia sonhou com uma catedral construída de ossos.
As pilastras eram formadas de crânios, as paredes de ossos em geral e algumas tapeçarias velhas e empoeiradas de predominância lilás a enfeitavam. O altar era uma grande costela coberta com uma toalha esfarrapada, e atrás do altar, sentado num trono ósseo de estofado gasto, estava Arthanór. Vestido com o que a milênios teriam sido roupas suntuosas.
- Quem é você? – Perguntou o homem assustado.
- Apresentações são pouco importantes – respondeu o deus olhando o homem de cima e falando com uma calma intimidante. – Vim apenas comunicar-lhe que escolhi você...
- Que história é essa? – Perguntou o homem olhando ao redor, escondendo o pavor que sentia. – O que quer comigo?
- Escolhi você... – continuou Arthanór, não podendo falar a coisa errada, pois sabia que seus poderes não podiam chegar ao plano material, mas no mundo dos sonhos, tudo era possível. – para me ajudar com uma tarefa importantíssima. – informou ao homem.
- Não costumo ceder a pedidos de aparições em meus sonhos – disse o homem, perdendo um pouco do terror que sentia.
Arthanór ergueu os braços e os moveu rispidamente, lançando o homem a metros de altura, estatelando-o contra o teto da catedral. O sangue escorreu pelas costas do homem que caiu de volta no chão, apavorado.
- Não ouse zombar de mim, mortal! – Rugiu Arthanór perdendo o controle. – Não seja estúpido o bastante para isso. Venho aqui oferecer-lhe o que deseja, em troca do que eu desejo.
O homem enxugou o sangue em sua boca com a manga de sua túnica.
- E o que é que eu quero? – Perguntou, em tom desafiador, fechando a cara, duvidando da veracidade daquela cena.
- Poder, glória, vida eterna, vitória contra o exército que te cerca, mulheres... – Arthanór inferia a partir daquilo que sabia depois de tanto tempo estudando sua raça. – tudo aquilo que eu posso propiciar-lhe... Desde que aceite colaborar com meu pedido – completou, com um tom mais afável.
- E qual é o seu pedido? – Indagou o homem. Arthanór sorriu, conhecia também esse lado dos humanos. Se ele não fosse aceitar, simplesmente teria negado, mas não o fez. Ele queria...
- É algo simples – começou Arthanór, tirando de dentro da túnica púrpura o pingente que prendia sua pedra de poder. – Deve conseguir outras quatro pedras iguais a essa.
O homem olhou encantado para a pedra que girava e oscilava, pendendo do extremo da corrente dourada na qual Arthanór a havia prendido.
- Isso meu bom homem – disse Arthanór, com nojo de si mesmo pelas palavras doces que usava. – É o artefato mais poderoso do multiverso. E são necessárias para me trazer de volta a vida.
O homem caminhava hipnotizado na direção da pedra.
- Você então aceita, através dos meios que preferir, buscar as quatro outras pedras de poder, conseguir tanto sangue quanto o que eu derramei em vida e tanto ouro quanto o necessário para erguer um colosso, grande o bastante, que me servirá de corpo em seu mundo material? Unir esses três elementos e trazer-me de volta a vida, da forma correta? – Perguntou o deus, preparando a magia de encarceramento verbal, um juramento sagrado, que não pode ser quebrado. Preparara seus dizeres com antecedência tentando evitar brechas.
O homem balbuciou uma resposta incoerente deslumbrado pela jóia, e pelas promessas dadas pelo deus.
- Você me dará o que prometeu quando eu lhe trouxer à vida? – Perguntou o homem, quase sussurrando. Esticava os braços tentando alcançar a pedra.
- Sim! – Concordou Arthanór vitorioso.
Ele, que afastava a jóia do alcance do homem que se movia lentamente em sua direção, deixou-a cair sobre suas mãos abertas.
Uniu suas mãos providas de garras e escamas grossas às do homem, mantendo a jóia, sua única fonte de poder, entre elas. Uma explosão violeta irrompeu do toque, selando a promessa de ambos. Por mais ambígua que fosse a de Arthanór.
O homem caiu em agonia, enquanto o deus apertava a jóia contra a palma de suas mãos estendidas, proferindo velozmente o longo encanto, sem errar uma única vez.
Ao soltar a jóia, deixando-a com o homem, foi lançado de volta ao seu plano: Tenterus ono Etherus Prisnaon. E o homem ao seu: Terra.

- ERGAM-SE! – Gritava ele, entusiasmado, segurando o pingente em seu peito. – VAMOS POR ESSES CÃES SARNENTOS PARA CORRER!

A magnificência daquela jóia era inimaginável.


1 de agosto de 2017

À caminho de casa

Justo agora, à caminho de casa, dei-me conta de algo que pareceu-me acertadíssimo sobre Perfeição.

Não sobre o que é perfeição. Afinal, por mais que definir esta palavra possa parecer fácil, definir, ‘perfeitamente’, o que ela quer dizer na prática, é quase impossível. Me parece ser como contar até infinito, ou caminhar até o horizonte.

Pensei então em figuras que geralmente são consideradas perfeitas, ou que ao menos nos servem de exemplo para entender a perfeição. E nem mesmo elas o são. Por que, como é possível ser perfeito? Vivemos em um mundo com outros seres humanos, e a perfeição não funciona em sociedade.

Em cada canto dizem uma coisa. Nesta porção do mundo, cristã, somos pautados por uma moral dicotômica de certo e errado, de bem e mal, do belo e do horrível... E mesmo que seguíssemos os passos de Jesus um camarada, que até mesmo eu, ateu, tenho grande respeito e admiração, acabaríamos de um modo ou de outro apenas mortos, como ele. Já que pra uma galera daquela época a perfeição dele não servia.

Vivemos em um mundo onde há muitas diferentes perfeições.

Talvez seja essa a dantesca causa da dificuldade de definir Perfeição.

No entanto, há nisso tudo um outro problema – Gerado por estas expectativas coletivas com relação a própria humanidade: Por que é que queremos ser perfeitos?

As religiões, os mitos, os heróis, tantas destas histórias nos fazem crer em super humanos, nos fazem crer que existe uma elite de seres humanos tão, mas tão fodas, que nós precisamos ser sempre melhores. Que precisamos, ao menos um dia, ser perfeitos.

E se parássemos por uns instantes de tentarmos “ser perfeitos” e apenas “ser”?

Talvez aflorassem alguns monstros. Talvez aflorasse o que sentimos de verdade, quem, verdadeiramente, queremos ser. Talvez o que somos seja muito feio, terrível até. Mas essa feiura é de verdade? Nós realmente nos achamos tão terríveis assim, por pensar o que pensamos, por sentir o que sentimos? Ou a lente que nosso povo nos deu para nos olharmos é que nos distorce tão brutalmente a ponto de não nos reconhecermos?

Nos fazem acreditar que somos míopes de alma. Nos mostram umas almas, então, para servir de referência. – É assim que você tem que ser. Siga o exemplo. Dê o exemplo.

Nos negamos o tempo todo, pois queremos ser perfeitos.

Se é que queremos ser perfeitos. Pra quê? E pra quem?

Mas sempre tentamos. E bem quando achamos que estamos chegando mais perto, vem alguém nos dizer que não é assim. Vem alguém e nos crucifica, vem alguém e ateia fogo em nosso corpo, vem alguém e nos bate na rua, vem alguém e nos xinga no trânsito, vem alguém e grita conosco no trabalho, vem alguém e nos educa na escola, vem alguém e nos ama em casa.

A perfeição... é nossa, ou deles?

Quem sabe seja uma perfeição coletiva... Besteira.

Será que uma ou outra religião que é perfeita? Uma está certa e as demais equivocadas?!

É uma identidade só que posso ter? Ou várias? Mas tenho que ser menino, né?

E o que eu sou? E o que eu quero ser? E o que eu posso ser?

Só é perfeito se eu tiver o aval?

O teu aval?

Meu ovo.

Estou à caminho de casa.
E nela eu sou quem eu quiser ser.
E você também deveria, ou não. Seja sua própria perfeição.

Mas seja.

Não deixemos de Ser.

22 de março de 2017

Ser eu

Já faz muito tempo que não escrevo.
Talvez por que ter perdido-me um pouco no movimento de escutar.
Não queria dizer verdades. Queria escutar as verdades dos outros, mas deixei de escutar um pouco a mim, e, na verdade, acho que foi por isso que parei de escrever.
Não queria escutar-me mais.
É mais facil escutar o outro, responder ao outro, refletir o outro.
É impossível, no entanto, ser o outro, de modo que só resta a mim ser eu mesmo.
Mas são tantos eus.
'Eu' é tanta coisa, que às vezes cansa... às vezes doi...
Escrevo agora, por que, depois dos meus dois últimos dias, era só o que me faltava - escrever.
Fui jogado num quarto escuro onde apenas eu e eu estávamos.
Fizemos de tudo. Primeiro nos encaramos. Ficamos um longo tempo assim, tentando reconhecer no eu refletido o eu contido. Choramos, sorrimos, nos abraçamos, nos amamos e conversamos demais.
Por fim escrevemos juntos... Isto, que não sei o que é.

Deixar de escrever foi uma maneira de deixar viver os tantos "eus" que sempre vivi. Em algum momento uma fuga, mas na verdade é o encontro.
Com o tempo, pensamos em coisas e logo deixamos de pensar. Tempo é transformação, e com ele nos transformamos.
Contudo, negar o que se é, ou fugir do que se sente não é transformação, senão destruição.
Medo.
Eu quero ser quem sou, escrever o que sonho, sonhar acordado. Ver o mundo belo com as cores que eu quiser ver.
O outro sempre estará no horizonte, o outro andará comigo de mãos dadas.
E descobri que sendo eu mesmo, posso ser o outro de alguém.
Ser quem se é, não é algo fácil de se ser.
Mas se não formos, quem será, não é mesmo?
Sendo assim, naquele dia, naquele quarto decidi que seria eu.
Não significa que o esteja sendo, tanto quanto eu gostaria. Mas estou sendo o máximo que posso ser.
E, quem sabe, com o tempo, seja cada vez mais eu.
E convido todos os outros que quiserem ser comigo, eu e você.
Com isto que não sei o que é, volto a escrever.