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12 de agosto de 2013

Livro (Em Processo) - Capítulo Um d'Os Guardiões de Tarkataz

Theodor havia deixado a estradinha de terra batida que o levaria de volta para casa já há algumas horas. Ele agora caminhava por entre as árvores que circundavam toda aquela região. Pequenos arbustos compunham a paisagem ao redor com suas flores ainda para desabrochar.
A lua, quase cheia, pairava no céu, lançando sobre a floresta raios prateados que perfuravam as copas das árvores e atingiam o solo com suavidade, iluminando fracamente o caminho que Theodor ia seguindo por entre os ramos que puxavam suas roupas.
As criaturas noturnas passavam como vultos ao seu redor. Ele ouvia o som de pequenos animas correndo sobre as folhas secas. E ouvia as folhas das árvores farfalhando acima de sua cabeça. Uma coruja pousou em um galho a sua frente e de lá ficou observando-o passar, com aqueles olhos esbugalhados, girando sua cabeça para trás até perdê-lo de vista.
As árvores começaram a ficar mais esparsas e a luminosidade havia melhorado assim que ele atingiu o pé da primeira colina, que se estendia ao longe, para os lados e para cima. Ele estava já mais perto de casa.
Agora que tinha chegado ao sopé das colinas Theodor decidiu dormir. Aquele dia de caminhada incessante cansou seu corpo. Ele então parou. Esfregou o suor da testa, jogou suas coisas no chão e acendeu uma fogueira com alguns galhos que havia recolhido pelo caminho. Preparou uma rápida refeição. Estendeu seu saco de dormir no chão, pôs sua espada em baixo do cobertor, na altura de sua mão, e adormeceu contemplando a abóbada estrelada que se opunha a ele confrontando-o.

Na manhã seguinte ele foi acordado pelo canto de alguns pássaros nas árvores perto dali. Levantou-se depressa e arrumou suas coisas. Prendeu sua espada, sem bainha, de volta ao seu cinto, pôs sua mochila nas costas, jogou seu camisão de cota de malha por cima dela - não queria vesti-lo para evitar o calor do metal e também porque naquelas terras não haveria necessidade. Com o pé jogou um pouco de terra em cima das brasas que ainda ardiam timidamente na fogueira, estalando e lançando ao céu um fino fio de fumaça.
Começou, então, a subir a colina, não era muito íngreme, mas o orvalho na grama tornava-a um pouco escorregadia, dificultando o princípio da caminhada. Ao mesmo tempo, o Sol aparecia a sua frente, imponente, tão grande e belo, acariciando sua face com os primeiros raios da manhã.
Theodor havia deixado a estrada na noite anterior, porque havia decidido que queria ver sua cidade de cima, para que, de longe, pudesse admirar sua beleza. Afinal, fazia dois anos que ele havia deixado Fortheit para servir ao exército em Orull, a capital do reino. E ele se perguntava a cada passo que dava como estaria agora a sua cidade, na qual nasceu e cresceu. Queria saber se o moinho onde tanto brincava quando criança ainda estava do mesmo jeito. Se o Sr. Fillus ainda estava tão rabugento, ele vivia reclamando quando Theodor, Nillah e Leon entravam em sua fazenda para cavalgar em seus cavalos. Imaginava como estaria seu velho avô, com aqueles acessos de tosse, aquela voz rouca e cansada de tantos anos de trabalho na fazenda, se sua querida mãe ainda preservava aquela beleza jovial. E sentia falta também do seu arco de teixo, que ele mesmo fez.
Theodor era um bom arqueiro. Quando a fazenda não dava lucro o suficiente para que sua família comprasse carne no açougueiro da vila, era ele que saía para caçar. Costumava passar algumas noites fora, em busca de um pequeno bando de cervos, ou mamíferos menores, mas não houve uma só vez que tivesse voltado de mãos vazias para casa.
Havia algumas árvores espalhadas aleatoriamente, cobrindo toda a extensão das Colinas Verdejantes. Seus troncos eram finos e retorcidos, suas copas desprovidas de muitas folhas e havia incontáveis pássaros coloridos sobrevoando-as. Eles cantavam músicas alegres enquanto brincavam uns com os outros e alimentavam seus filhotes famintos dentro dos ninhos. Um magnífico céu azul se erguia no horizonte por trás do verde das colinas. O dia estava claro e com poucas nuvens.
Theodor subia com dificuldade por conta do peso da mochila. Sua espada balançava em sua cintura refletindo a forte luz do sol e sua armadura tilintava em suas costas, sua longa sombra se esticava até a planície perdendo-se em meio à floresta.
Estava caminhando já a cerca de meia hora quando chegou ao topo daquela colina. De lá pôde ter uma boa visão de todos os arredores. Atrás dele havia um mar de árvores enormes e frondosas, cortado pela estradinha de terra que serpenteava por entre elas circulando as colinas. Muito ao norte ele podia ver Stronghtköld, uma cordilheira de montanhas enormes, mais de dez vezes maiores que as humildes Colinas Verdejantes. A esta distância as montanhas não passavam de pequenas protuberâncias no horizonte. Enquanto Theodor estava em Orull ele ouvia bardos contando histórias sobre elas serem capazes de perfurar os céus, e em algumas outras que elas eram habitadas por anões, as quais ele julgava mais sensatas – Afinal, perfurar o céu... – pensava. E a frente era capaz de ver apenas uma infinidade de colinas que se perdiam no horizonte até se confundirem com o céu.
Estimulado pelo pensamento de poder estar de volta à sua casa, Theodor redobrou os passos na direção de sua cidade. Um casal de coelhos correu para suas tocas ao vê-lo se aproximar. Ele observou os buracos, curioso, e olhou de novo para Stronghtköld, pensando se haveriam de fato anões no interior daquelas montanhas, e como teriam feito túneis, cidades, fortalezas e etc. por debaixo de uma montanha... A habilidade necessária para isso seria algo incomparável. Theodor fez questão de se abaixar e olhar pra dentro da toca dos coelhos, mas tudo o que viu foi o escuro, e talvez o que seria o focinho de um deles.
Ele se lembrou das histórias fantásticas que Frinn, o Bardo, contava durante sua estada em Orull. As histórias sobre elfos, que habitavam o interior d’As Florestas Azuis, um povo alegre e exótico, com orelhas pontudas. Anões, homens baixinhos e carrancudos que viviam sob as pedras. Orcs seres que aparentavam ser homens selvagens, altos e musculosos, com presas protuberantes, e pele verde-acinzentada. E tudo o mais, como dragões, sereias, fadas, centauros, tartarugas do tamanho de ilhotas. Mas Theodor nunca havia visto nada disso. Ele uma vez havia perguntado a Frinn o porquê, mas ele simplesmente respondeu – Tempos difíceis, meu rapaz... As mudanças no mundo, apenas o tempo é quem as traz. Mas se porventura tentar trazê-las tu mesmo, tome cuidado com o que faz! – e continuou tomando sua cerveja.

Horas depois, a paisagem quase sempre a mesma, grama baixa e árvores de pequeno porte se estendendo em todas as direções. O sol já estava alto no céu e a barriga de Theodor roncava de fome, eventualmente. Ele estava louco para chegar em casa logo e comer um delicioso ensopado que só sua mãe sabia fazer, com raízes, batatas e temperos.
O suor escorria pelo lado de seu rosto e rapidamente se evaporava, deixando finas camadas de sal onde antes traçavam sua descida. Seus cabelos, não muito curtos, estavam começando a grudar em sua testa, e sua respiração estava forte. Soltou o seu cantil do cinto e bebeu os últimos goles que ainda lhe restavam. Ele sabia que chegaria à sua casa em algumas horas, portanto não precisaria mais da água armazenada ali com tanto custo.
Conforme ele subia e descia as colinas, o sol se movia, passando sobre a sua cabeça, até ficar atrás dele e começar a se por. Ia em direção a onde estaria o Mar do Oeste, tingindo o céu com tons de rosa e laranja. Ao longe Theodor pôde ver a fenda na qual se encontrava sua cidade. Finas linhas de fumaça saíam do vale e iam subindo até se perderem no céu, que ia ficando cada vez mais escuro. Um vento frio agora soprava aconchegando Theodor depois do dia quente de caminhada, e fazendo a grama baixa dançar ao seu redor.
Ele apertou o passo e cobriu todo o espaço que o separava da cidade rapidamente. Nos últimos metros ele correu, estava eufórico, contente e muito ansioso. Ele já ouvia o som do rio que cortava o vale, gorgolejando lá em baixo. E, então, finalmente, dois longos anos depois, ele poderia ver sua terra natal novamente. Foi andando até que, por fim, ele pôde ver.
Escondida pelas colinas estava a cidade, escura. Casebres de madeira construídos desordenadamente formavam ruelas e becos por quase todo o vale. Nos extremos da cidade havia grandes campos de trigo, arroz, milho e algumas outras poucas variedades de cereais. No extremo sul da cidade Theodor via o estábulo e atrás dele um grande pasto, no qual repousavam lembranças alegres da sua infância, formando montículos escuros sobre a grama. Mais ao sul, no cais, além dos já conhecidos barcos pesqueiros, havia grandes embarcações, aparentemente de comércio. Fortheit era conhecida pelo seu comércio de grãos, e mercadores de vários lugares vinham para fazer comércio. Ao redor da ponte que dividia o rio, em ambas as margens, havia algumas estacas e tábuas de madeira montando pequenas barracas, aonde, pela manhã, as pessoas venderiam suas coisas ou trocariam por algo que lhes faltasse. O mercado. Mais além estavam as casas de seus amigos Nillah e Leon. E na outra direção, no sopé de uma colina estava a sua pequena propriedade, aonde ele, sua mãe e seu avô cultivavam alguns legumes e frutas, em maior parte para seu próprio uso.
Fortheit era uma das grandes cidades do reino. Tinha tavernas para que os viajantes e comerciantes pudessem se hospedar, um ferreiro que produzia, vendia e reparava artefatos de metal e alguns outros tipos de objetos. Havia manufaturas, inclusive costureiras e sapateiros. Era uma cidade próspera e abrigava uma grande variedade de pessoas que compartilhava de costumes e características semelhantes.
Theodor desceu correndo a encosta. Atrapalhado de tanta euforia acabou escorregando, mas conseguiu se por de pé novamente e continuar. Atravessou a ponte de madeira que unia os dois lados da cidade. Passando pelo moinho, e pelo meio do mercado. Algumas das casas ainda estavam acesas, sombras tremeluzentes se projetavam no chão a partir de, provavelmente, velas ou lareiras. Theodor atravessou a ponte e se agachou perto do rio, com as duas mãos em forma de concha bebeu alguns goles de água, não que estivesse com sede, mas apenas para se lembrar de como era bom estar de volta em casa. E então continuou andando.

Sua casa era uma pequena construção de madeira pedras e barro, nos limites do vale, coberta por um telhado de sapê. Ao lado da casa havia um pequeno galpão, onde ficavam alguns animais que a família possuía. E, nos fundos, por trás da casa, ficava a pequena plantação. Havia algumas ferramentas espalhadas pela varanda, pedaços de madeira, martelos, pás, enxadas e etc.. Ele foi até a porta e a abriu. Ela produziu um som áspero e penetrante e logo em seguida ele ouviu um baque na madeira em algum lugar da casa escura. Ele ouviu mais uma vez o ranger de uma porta e logo em seguida uma voz feminina, segura e confiante:
- Quem está aí? – a voz vinha do fundo do aposento.
- Mãe? É você? – perguntou Theodor desejoso.
- Theodor? – a voz respondeu – Meu filho?
Com a porta ainda aberta atrás dele, a luz da lua iluminava a entrada do aposento. Uma mulher veio andando em passos largos até a porta, com os braços abertos e lágrimas resplandecentes rolando abaixo em sua face. Theodor largou sua mochila no chão e abraçou sua mãe, no mais puro gesto de afeto.
- Meu filho! Por Fridda! Como você está? Já faz dois anos – ela chorava de felicidade – Você cresceu! Venha até a mesa deixe-me acender uma lanterna e ver você direito! Estou tão feliz...
- Eu também estou muito feliz mãe, estou bem, mas se passou muito tempo. Mal espero para me encontrar com Nillah e Leon. Como eles estão? – ele falava enquanto iam para a cozinha, ele sentou-se em uma cadeira e sua mãe procurou pelo óleo para acender a lanterna. Dois estalos foram ouvidos e então a luz das chamas invadiu todo o aposento. A mãe de Theodor fez uma cara de espanto. – O que foi?
- Você! Não é mais meu garotinho...
- Mamãe. Por favor, já tenho 18 anos.
- Está forte, sua barba está grande, e que cicatriz é essa no seu ombro, o que houve? – Sua mãe ia inspecionando cada centímetro do seu corpo com seus olhos atentos. Ela era uma mulher de meia idade, tinha longos cabelos cor de mel, e olhos amendoados da mesma tonalidade, características passadas para Theodor. Ele tinha cabelos num tom castanho claro, belas feições e seus olhos eram um pouco puxados. Seu rosto estava com um aspecto selvagem por conta da barba espessa que agora cobria toda a parte inferior da sua face. Seu corpo foi moldado pelo intenso treinamento militar. Ele adquiriu um porte mais orgulhoso e maduro do que o que sua mãe conhecia antes dele partir, o que aparentemente a desapontou profundamente.
- É uma longa história tudo isso mãe. Ao chegar a Orull eu e os outros recrutas fomos levados para uma área de treinamento. Ficamos todos alojados lá. Todo dia de manhã tínhamos que completar um circuito de tarefas físicas dificílimas, mas com o tempo eu fui me acostumando...
- Eles machucaram vocês?
- Mãe...
- Desculpa. – disse ela tentando se controlar.
- Enfim, nós tínhamos treinamentos com armas, nos quais eu me saia muito bem. Nos treinos de arco eu era insuperável. Tivemos também diversos testes de sobrevivência. Treinamos montaria e tudo o mais.
- O exército do nosso reino parece mesmo ser muito bom, nunca tive muito contato com eles.
- Claro, nunca foi necessário aqui.
Sua mãe se levantou e foi até o fogão preparar um chá. Enquanto eles conversavam mais.
- E o que são aqueles navios aqui no porto? – perguntou Theodor.
- Ah sim, – ela deixou a panela com água no fogo e virou-se para seu filho. – são alguns navios de comércio. Claro, você não sabe. Amanhã será o Grande Festival do Milho, a nossa família e a de Edgard estamos encarregados de realizar uma corrida de obstáculos. Você pode participar se quiser. Terão diversas atividades. Este ano o festival promete ser muito bom. E talvez você possa ganhar a competição de arco. Fiquei sabendo que será realizada por Kimby, e que o prêmio para o vitorioso é um arco muito bem feito.
- Isso é sério? É claro que participarei então.
O chá ficou pronto e ambos se serviram. Theodor perguntou sobre seu avô, sobre fatos que tenham ocorrido na vila durante sua ausência. Ele queria estar informado. Sua mãe trouxe um bolo de frutas secas e torradas para ele comer enquanto conversavam.
- Sente-se comigo esta noite.
- Como quiser meu filho – disse ela alegre.
Theodor então despejou o conteúdo de sua algibeira em cima da mesa. Várias moedas de prata e cobre rolaram por cima dás tábuas. Sua mãe se assustou.
- Espólios de um vilarejo que conquistamos. Era um povo forte, bons escravos – o rosto de sua mãe se fechou numa careta de tristeza e pesar. – Vamos, você sabe que também não gosto disso, mas precisamos do dinheiro.
- Esta prata vem do sangue de outros, não me sinto confortável com isso.
- Eu tampouco, mas sabemos que é necessário – ele separou as moedas em duas pilhas desiguais, guardou a menor de volta em sua algibeira e arrastou a maior na direção de sua mãe. – Vamos, pegue, por mim, compre mais animais e utensílios novos para sua cozinha. Esbanje amanhã no festival.
- Obrigado.
Horas depois, quando todas as perguntas haviam sido respondidas, mãe e filho decidiram ir dormir. Amanhã eles teriam um dia longo e cansativo, portanto deveriam descansar. Theodor pegou sua mochila, que tinha deixado na porta e cada um foi para seu quarto. Ele ficou feliz de saber que as coisas ainda estavam todas no mesmo lugar. Seu arco e sua aljava presos em um prego na parede, ainda com cinco flechas. Ele arrumou suas roupas no seu pequeno armário de madeira. Ficou sentado ainda algum tempo na cama de palha sob a janela. Mal podia acreditar que estava em casa outra vez. Depois de dois anos inteiros... em casa... outra vez...dormindo.

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