Eu me deparei com aqueles olhos brilhantes me encarando da
escuridão. Apenas o brilho da lua refletido em sua córnea. Sério e contido me
viu passar. Com um ar de superioridade e confiança descomedidos. Ele tinha
certeza do que ele queria, e eu não fazia ideia. Não conseguia captar nenhum
sinal reconhecível, e preferi acreditar no que me confortava mais.
Aquele olhar me perturbou - me assustou, eu diria. Fiquei um
pouco confuso sobre o que ele realmente significava. Era duro e difícil de
sustentar por muito tempo. Mas extremamente belo, curioso, instigante,
provocante e surpreendente. Ele parecia ler minha alma, me entender com
profundidade por debaixo das pálpebras que não me lembro de ver fechadas.
Eu queria desviar os olhos, mas sentia que se o fizesse ele
saltaria sobre mim, tomando conta de todo o meu ser, destroçando minha
existência. Mas isso era criação da minha mente. Ele obviamente só ficaria
parado e arranjaria outra coisa mais interessante para olhar, quando eu saísse
de seu caminho.
Me diminuindo me ameaçando e me compreendendo, me expondo e
me fazendo pensar em coisas que eu não pensaria se não defronte praquele olhar.
Maldito gato sorrateiro.