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14 de março de 2014

Vivendo a História - Calígrafo

Conteúdo referente ao Projeto Vivendo a História 


1558 foi o ano em que nasceu o quinto filho de uma antiga família de goushis, isto é, fidalgos rurais, do norte da província de Bizen, Yoitochi no Daigoshi cresceu com a polida educação que esta classe tentava reproduzir, imitando as nobres famílias samurai. Sua família cuidava de suas terras e suas finanças, gerenciava todos os indivíduos que habitavam em seu território, cultuavam as divindades que abençoavam sua região e respeitavam as doutrinas budistas.


Daigoshi estudou profundamente a história do Japão, sua religião, sua geografia, sua escrita e sempre possuiu um interesse pelo conhecimento e pela contemplação do universo. Sempre buscava junto dos sábios monges do templo de Okayama o caminho para os conhecimentos que ele almejava e conversava com eles durante horas. Quando Ukita Naoie buscou, junto aos seus vassalos, possíveis candidatos para trabalharem no castelo, Daigoshi foi um dos que se disponibilizou para servir ao seu clã. Em 1575 mudou-se para a capital, que estava sendo reconstruída e ampliada por conta dos novos cargos que o castelo estava requisitando.


Aprimorou muito dos seus conhecimentos com o tempo e dedicou sua juventude ao Shodō, isto é, literalmente, o Caminho da Escrita, mas praticou também o desenho e a aquarela. Com sua inigualável memória aprendeu mais de dois mil kanji diferentes e passou a executá-los com a determinação de um verdadeiro artista. Começou também a ensinar o jovem Hideie, filho de seu senhor, nesta arte e depois os filhos deste.


Aos vinte e dois anos, já casado, tendo realizado a pintura dos kanji que seriam usados numa honraria à visita de certo senhor ao palácio dos Ukita, um monge que o acompanhava procurou saber quem havia escrito tais palavras. Ao se encontrarem, feitas as devidas apresentações, o monge pediu permissão para observar outros trabalhos que Daigoshi havia feito. Honrado pela admiração de sua arte, prontamente levou-o ao seu estúdio, metodicamente organizado.


O monge observou quando Daigoshi trouxe algumas de suas mostras de caligrafia, pareceu avaliá-las e disse que eram "extraordinariamente precisas". Recebendo como um elogio, Daigoshi agradeceu. O monge pediu permissão para usar seu papel, pincel e tinta, e quando lhe foi permitido, o fez. E escreveu, mantendo a extremidade do pincel presa suavemente entre as pontas de seus dedos.


O resultado deixou Daigoshi boquiaberto. A beleza, a leveza e paz que aqueles kanji transmitiam eram intraduzíveis, senão pela observação propriamente dita de suas linhas negras sobre o papel. Ao questionar o monge sobre o que ele tinha para lhe ensinar, sua resposta foi rápida: Nunca pense que seu aprendizado está completo, e faça de sua vida uma busca constante, e de suas experiências a tinta para pintar sua arte.


Tocado pelas palavras daquele monge Daigoshi passou a frequentar mais os templos budistas, e a meditar mais. Aprendeu a viver a vida em sua plenitude e a apreciar cada um de seus momentos. Teve duas lindas filhas, que têm, agora, doze e nove anos. Aprendeu a esvaziar a mente para deixá-la preencher-se. Aprendeu a usar o silêncio como um papel em branco...


No tempo em que Hideie estava ausente junto dos homens de Bizen por conta da Batalha de Sekigahara Daigoshi contou aos filhos de seu senhor o que o monge havia lhe dito naquele dia. E depois levou-os para o jardim onde pintariam gigantescas telas de palavras reconfortantes no aguardo do retorno de seu pai. Mas naquela mesma noite a chuva as lavou, e na manhã seguinte Kobayakawa Hideaki batia nos portões. E os kanji choravam.

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