Arte - Jorge Luiz Silveira
Conteúdo referente ao Projeto Vivendo a História
Nascido no ano de 1552, um homem
já de certa idade, Kajiya Sen'yō, viveu toda sua vida em Okayama. Na sua
juventude viu Ukita Naoie, pai de Ukita Hideie, transformar a província de
Bizen, de uma extensa área improdutiva, num grande centro produtor de arroz,
onde agora vivem muitas famílias. Viu-o dar início à reconstrução do castelo de
Okayama, incentivar o comércio e a manufatura e transformá-la numa bela cidade,
limpa e organizada. Viu-o negociar com sabedoria e correto julgamento. Em 1573 viu
o pequeno Hideie nascer e crescer forte e seu pai falecer, nove anos depois,
mas como ainda era muito jovem quem tomou a frente do castelo foi seu tio,
Tadaie, irmão de Naoie.
A vida toda foi ferreiro, assim
como seu pai e seu avô o eram antes dele. Em reconhecimento ao seu esmero, sua
perseverança, seu comprometimento e sua habilidade no que fazia foi chamado
para trabalhar no castelo quando este foi completado por Hideie, e forjou
muitos utensílios, ferramentas e armas para seus senhores.
Sua oficina foi transferida para
dentro da área reservada para os funcionários do castelo, logo na margem
externa do fosso, onde também lhe concederam uma casa onde poderia morar com
sua mulher, uma órfã que conhecera numa viajem e que ofereceu-se para ajudá-lo
em seus serviços em troca de comida, apenas. Mas ele afeiçoou-se por ela, e
aceitou-a como esposa.
Há dois anos atrás, o vilarejo
estava vazio, pois muitos dos homens haviam partido para tentar a sorte na
batalha de Sekigahara e ainda não haviam retornado. Sen'yō acordou numa noite
com o chamado de sua esposa. O fraco gemido transformou-se em gritos e quando
ele correu para vê-la percebeu que seu filho estava nascendo, mas vinha mais
cedo que o esperado.
Preocupado correu com ela em seu
colo até o castelo para pedir às parteiras, que estavam lá aguardando pelo
filho da esposa de seu senhor Hideie, que também estava para nascer, para que
acudissem sua esposa, mas recebeu a notícia de que elas estavam ocupadas pois estavam
agora com a senhora, porque nascia seu terceiro filho. Desesperado, suplicou
para que o deixassem entrar. Comovidos por seu sofrimento, os guardas o
acompanharam até o quarto onde sua senhora estava recebendo os cuidados.
Contudo, até o dia seguinte o seu
bebê ainda relutava em sair, e para desanuviar a mente, voltou à sua oficina.
No fim do mesmo dia descobriu que seu filho nascera morto, mas que sua esposa
estava bem, e se recuperando, e estava ainda ajudando a senhora com seu bebê,
pois de seus peitos não saía o leite, enquanto dos de sua esposa sim.
Uma semana depois chegaram as
tropas de Kobayakawa Hideaki, em nome de Tokugawa Ieyasu, para levar presos
todos os membros do clã Ukita. E foi nesse dia que sua esposa voltou para casa
com um bebê, mas não o seu, o de sua antiga senhora. Ela explicou que armaria
sua fuga com alguns samurais quando fosse possível e que retornaria para recuperar
o filho. Não podia levá-lo, pois não teria como alimentá-lo, e temia pelo pior
numa viagem de soldados, como prisioneiros, mesmo que nobres, e confiava neles
para cuidar da criança até lá, pois os homens de Hideaki não teriam como
desconfiar, nem nenhum outro da cidade, pois ninguém nunca soube que ela
perdera o bebê.
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