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4 de janeiro de 2014

Estudo - Descrição da Ilustração de Paul Bonner

Eldsjäl - O Vale de Fogo

(Não tenho certeza do título da imagem, e a tradução usada aqui não é verídica)


Estudo literário por Estevão Balado para a Ilustração de Paul Bonner


                Era outono.

                O vento frio começava a minguar a névoa que cobria o solo pedregoso da floresta alta e densa que atravessavam. A respiração pesada dos anões contrastava com o leve restolhar das folhas que voavam tingindo a paisagem com degradês alaranjados. O céu limpo sobre suas cabeças era quase belo o bastante para fazê-los esquecer de tudo o que aconteceu na noite anterior, mas os olhos fundos e as expressões sombrias mantinham-se gravadas em seus rostos hirsutos.

                - Tem certeza que não devíamos ter esperado o Humano? - A voz de um deles arranhou o silêncio, grave e súbita. O outro parou e virou-se para encará-lo com um olhar de censura. Olhou para o alto, num sobressalto, semicerrando os olhos, quando um par de corvos voou de um galho em direção ao firmamento e o disco brilhante ofuscou sua vista.

                Instintivamente ele levou as mãos à faca de caça que carregava no cinto, em suas costas, e olhou ao redor. Fez um gesto para que o outro continuasse andando e sussurrou de modo imperativo:

                - Eu disse para que não falasse nada até chegarmos ao rio! Wotan sabe o que faz, ele já deve estar lá. E eu disse para você que aqui... - Um ruído alto de arrastar ecoou pelo vale, vindo do topo das altas montanhas que lançavam suas sombras densas sobre a estria que atravessavam. Um arrepio percorreu a espinha dos anões, enquanto eles observavam a silhueta de uma gigantesca fera sobrevoar os penhascos à uma enorme distância do chão.

                Roddare puxou Bjønt para baixo das raízes de uma árvore, seu rosto denotava seu temor e seu coração acelerado a ansiedade. Ele sabia que um anão era uma presa fácil para dragões. Por isso nestas montanhas abrigavam-se dentro delas, em extensas cavernas e túneis, não ao ar livre, como os humanos. Até porque não possuem os mesmos poderes e bênçãos que eles.

                Em Eldsjäl os dragões foram os senhores por muito tempo, e todos sabem disso, até um humano chamado Ymir, há muito tempo, derrotar Dragon, o mais antigo de sua raça, e aprisionar seu espírito, com a ajuda dos sacerdotes anões, nas montanhas do vale. E, a partir de então, humanos e seus senhores,  a quem chamam Hermaður, aqueles que herdam o poder de Ymir, vem mantendo a cobiça e as garras dos dragões distantes de suas terras e das dos anões.

                Entretanto, agora que Gudyr, o último Hermaður, havia falecido, estavam todos vulneráveis novamente à ferocidade e às inconstâncias dos dragões. Portanto os anões vêm ajudando os humanos a encontrar o próximo herdeiro entre si, pois apenas assim haveria a esperança de trazer proteção novamente às sociedades que habitavam Eldsjäl.

                - Vamos continuar andando, e fique em silêncio - balbuciou Roddare, sem emitir som. Bjønt, completamente imóvel, apertava com tanta força o cabo de seu machado, que suas juntas empalideceram e suas veias saltavam pulsantes como vermes sob sua pele grossa.

                Eles se entreolharam, um buscando coragem na força do outro, acenaram resolutamente com as cabeças, e seguiram seu caminho. Não havia trilha, mas Roddare conhecia o caminho muito bem. Ele, assim como todos os outros ruivos de sua raça, possuía uma sabedoria sobrenatural, e, embora a floresta o reverenciasse, a presença dos dragões era ainda mais formidável e ameaçadora, por isso ali ele sentia-se exposto.

                Não tardou muito, eles chegaram à uma passagem estreita em meio a algumas rochas e dali conseguiam ver o quão alto ainda estavam. Viam o topo das árvores lá em baixo, descendendo irregularmente sobre as rochas até chegarem ao rio sobre o qual se curvavam. Além dele se avolumava outro paredão de rochas nuas. Juntas, as duas margens se elevavam e  coordenavam a passagem do rio entre si, formando sinuosas curvas que se perdiam à distância.

                Tudo parecia calmo. Terrivelmente calmo.

                - Vá na frente! - Murmurou o anão ruivo para seu companheiro, não mais alto que uma respiração. Bjønt, então, escalou até lá em baixo, segurando-se em algumas pedras para equilibrar-se. Roddare foi logo atrás, após certificar-se de que não havia sinal do dragão aqui. A trança ruiva, que cultivava solitária em sua cabeça raspada, agitou-se, conforme caía de um salto preciso e silencioso, ao mesmo tempo que Bjønt punha os pés no chão pesadamente.

~*~*~*~

                Wotan abriu os olhos quando ouviu os passos vindos da floresta. A espada já repousava em seus joelhos e, portanto, apenas fechou as mãos ao redor de seu punho, enquanto seu coração voltava a pulsar na velocidade normal. Seus olhos profundamente azuis miraram as duas figuras atarracadas saírem da floresta com gotas pesadas de suor constelando a testa de Roddare, e se perdendo na farta barba de Bjønt.

                Aliviado com a chegada dos anões, Wotan levantou-se. Neste momento os anões se curvaram, assim como as árvores faziam ali sobre o rio. E, cobertos pelas sombras da floresta, os três se cumprimentaram. Wotan pediu para que eles se levantassem, constrangido, e agradeceu por terem vindo. Sua voz soava austera e poderosa, mas, sua aparência, consternada.

                - Não agradeça, Wotan - disse Roddare. - nós conhecemos nosso dever e viemos até aqui para cumpri-lo. Está pronto para partir?

                - Espero que sim... - Respondeu, virando-se para observar o rio. - Estive conversando com meus ancestrais, e eles acreditam mais em mim do que eu mesmo.

                - Sabemos que aqueles que descendem de Ymir possuem capacidades especiais necessárias para apoderar-se do antigo espírito de Dragon, e as características que possui fazem de você um ser único entre os da sua raça. - O anão ruivo apontou para o outro rispidamente em direção ao barco, como quem perguntasse "o que está fazendo aí ainda?".

                - Mas eu posso não ter força o bastante para controlar o espírito de Dragon dentro de mim - respondeu ele, virando-se para o anão ruivo novamente, enquanto o loiro punha seu machado na argola em seu cinto e ia em direção ao bote que repousava ali, virado de cabeça para baixo, à margem do rio, escondido sob uma rocha saliente.

                - Minha raça, e meus irmãos estamos aqui para ajudar-te nessa tortuosa empreitada. Você se tornará mais forte, uma vez que Dragon esteja em você. Você pode achar que seu corpo é fraco, e talvez ele até seja, mas um espírito como o seu há de ter a força necessária para superar o do antigo dragão, e então seu corpo se tornará tão forte quanto o dele um dia foi, somado à força de todos os Hermaður antecessores a ti. Vejo que trouxe a espada, onde está o restante do equipamento?

                Ele apontou para uma pedra próxima de onde estava sentado antes, e lá estavam a antiga armadura, a bainha da espada e o escudo de Gudyr.

                - Vista-as - disse o anão, mais em tom de recomendação do que de pedido. - Grænteldur está sobrevoando a região... deve estar caçando. Além do mais, trols e ogros devem estar rondando pela floresta também.

                - Imagina o quão tolo seria, se o futuro herói de nossa região fosse morto antes de completar seu destino por um estúpido ogro? - Caçoou o anão barbudo.

                Wotan concordou com a cabeça e aparamentou-se enquanto Bjønt empurrava o bote rio adentro. Vestiu a cota de malha sobre o manto acolchoado que trajava, amarrou o cinto da espada por cima dela, em sua cintura, pegou o escudo, e respirou fundo. Roddare já estava dentro do bote segurando os remos, enquanto Bjønt esperava por ele.

                - Vamos garoto! - Disse.

                Ao entrar, sentiu a embarcação balançar. Sentou-se, e observou Bjønt terminar de empurrá-la para dentro do rio, para, só então, quando já tinha a água pelas canelas, saltar para dentro do bote e Roddare estar livre para começar a remar. E gradualmente se afastaram da margem, seguindo a correnteza.

                - Conecte-se ao mundo espiritual... - disse Roddare. - Quando chegarmos lá você será recebido por Dragon, e precisará estar bem solidamente ligado ao seu espírito para que, contra o espírito dele, tudo possa funcionar corretamente.

                Os altos paredões rochosos elevavam-se de ambos os lados, comprimindo-os entre eles. O anão remava calmamente observando o rosto de Wotan que havia fechado os olhos e começado a meditar novamente. Bjønt estava atrás dele, e segurava seu machado olhando para o alto, perscrutando a imensidão.

                - Você acha mesmo que esse é o certo? - Perguntou Bjønt em dado momento, quando já estava seguro de que Wotan não podia ouvi-lo.

                - Há de ser - respondeu Roddare.

                - Ele me parece ainda mais idiota do que os outros que trouxemos antes dele.

                - Não é a força bruta dele que fará diferença, tampouco a agudeza intelectual. Nunca foi. É o espírito dele que deve ser forte.

                - Os ruivos e essas histórias dos espíritos... Mas, se ele sequer acredita que ele pode, como quer que eu acredite, então?

                - Não era você o anão que estava comigo ontem? - Interrompeu-o Roddare, ironicamente - Acaso já tinha visto ser humano mais arrogante do que o que trouxemos ontem aqui? E ele foi destruído pelo poder de Dragon. Se a questão fosse acreditar em si mesmo, certamente já teríamos um novo Hermaður. A questão é conhecer-se. Conhecer suas limitações, suas capacidades, compreender-se...

                - Ora, mas por que funcionaria com este garoto qualquer, se não funcionou com os próprios descendentes de Gudyr?

                - Caráter e força de espírito não são coisas hereditárias como terras, força física, cor dos cabelos... Assim como os ruivos surgimos aleatóriamente, os Altos Espíritos também o fazem, sem distinção de estamento ou qualquer outra coisa.

                - Mas ele...

                - Fique quieto e pare de fazer perguntas! - Esbravejou Roddare, tentando controlar o tom de sua voz. -  Há de ser ele, e você há de acreditar nisso! Nosso tempo está acabando e se não encontrarmos outro Hermaður depressa os dragões, e as demais criaturas vão atravessar o rio como já fizeram algumas vezes, no passado, para matar, destruir e pilhar... Contudo, desta vez já estamos fracos demais para nos defendermos, e teremos que deixar Eldsjäl...

                Bjønt arrepiou-se ao ouvir isso. Ambos permaneceram quietos o restante da viagem, escutando o som dos remos entrando e saindo das águas calmas do rio, e os pássaros sobrevoando o vale, bem alto. Até que, logo após uma curva abrupta das montanhas, depararam-se com um pilar de pedra destacado delas, isolado no meio do rio, coberto com o mesmo tipo de gramínea alaranjada que o restante das pedras soltas, próximas dos paredões, também exibiam.

                Nele, um escudo e um chifre de beber repousavam, alguma oferenda antiga ao espírito de Dragon. Na parede logo atrás do pilar estava esculpido em baixo relevo uma imagem da fera que o guardava, posta na sombra de uma árvore frondosa que se debruçava sobre algumas rochas soltas, empilhadas por ali por conta de algum deslizamento passado.

                - Não deve tardar muito, agora - Comentou Roddare observando as pálpebras de Wodan em intensa atividade e gotículas de suor começando a formar-se sobre sua testa. Contudo, um estalido rompeu o silêncio e Wodan despertou sobressaltado, segurando-se na beira do bote, fazendo-o balançar violentamente. Os anões se agarraram também, assustados.

                - Ele... é muito... forte! - Exclamou, arfando.

                Outro estalido ecoou e dessa vez Bjønt gritou.

                - Olhe ali! - Ele apontava para o alto da árvore. Roddare cobriu os olhos com uma das mãos, enquanto segurava os remos com a outra. E ainda antes de distinguir a silhueta da criatura que se esgueirava no alto de um dos seus galhos, algo veio despencando aos saltos pela parede da montanha e aterrissou pesada e ruidosamente no topo do pilar. Pedrinhas acompanharam o movimento e caíram no rio, com sons suaves e abafados.

                Wodan ergueu-se sobressaltado, espada e escudo nas mãos, Roddare acompanhou com o olhar o movimento da criaturinha escanifrada que saltou da árvore para se alojar ao lado da maior, apoiando-se no cabo da arma que trazia.

                - Ogro... - Rosnou Bjønt enfurecido, erguendo seu machado.

               

  Bem, esse foi mais um estudo... Se tiverem gostado, e quiserem a continuação deste pequeno conto, comentem, curtam, compartilhem....

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