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10 de setembro de 2013

RPG - Background de um personagem para um mundo Medieval Fantástico

Sâmyla, a flor do deserto

Sou Sâmyla, nome um tanto conhecido por todos os povos que dependem de água no deserto. Sim, minha mãe deu-me o nome de uma suculenta e rósea flor de cacto que desabrocha no auge do verão. Não sei que significado esse nome possuía para ela, se é que possuía algum, por isso posso apenas imaginar possíveis justificativas para isso. Mas certamente sei o significado deste nome para mim. Minha mãe me chamava a maior parte do tempo de Sam, ou Samy. Tenho saudades da minha mãe, e nem tantas memórias dela. Fico imaginando como ela era antes de eu nascer, qual era sua história mais antiga, fico curiosa à respeito dos mistérios que ela guardava consigo.

Nunca cheguei a conhecer a grande cidade de Daerur, embora seja de lá que eu venha. Minha mãe, fugindo por minha causa, escondeu-se comigo ainda na barriga numa caravana de comerciantes conhecidos dela, apenas para me parir a algumas horas da cidade, num casebre de um fazendeiro que aceitou abrigá-la por aquela noite à pedido dos tais comerciantes, para que ninguém soubesse de meu nascimento prematuro. Me contavam que eu tinha nascido pequenina como um filhotinho de vira-lata, todos achavam que eu não fosse aguentar. Hoje em dia ninguém mais me conhece ou reconhece para ficar me lembrando destas coisas. Embora não seja necessário, tenho as lembranças destas pessoas muito claras na minha mente.

Foi nesta caravana que vivemos, minha mãe e eu, por um bom tempo. Viajávamos com frequência, indo de uma cidade para outra, conhecíamos gente nova e encontrávamos conhecidos nossos, vivandeiros, andarilhos, caçadores, trovadores, latoeiros, ciganos... uma infinidade de figuras errantes como nós. Minha mãe ganhava dinheiro lendo mãos e adivinhando o futuro das pessoas, ajudando os comerciantes nas vendas deles, comercializando ela mesma algumas coisas que fazia: perfumes, por exemplo, poções do amor, remédios... ela costurava, cantava, dançava...

Eu levava jeito para isso também.

Quando fiquei mais velha eu deixei de ficar sentada na carroça olhando tudo e todos enquanto brincava com bonecas que minha mãe costurava para mim e passei a costurá-las eu mesma. Comecei a ajudar na confecção dos panos, das rendas, dos perfumes. Comprava os frascos, entregava pedidos, corria para lá e para cá sujando meu vestido de poeira e ajudando a minha mãe a ganhar nosso sustento. Ela estava pensando em voltar para Daerur e por isso estávamos juntando algum dinheiro para podermos viajar até lá novamente e comprarmos alguns animais e terras. Talvez ainda tivéssemos que nos submeter a algum homem mais rico, ideia que minha mãe relutava em considerar.

Eu não conheci muito do passado dela, porém ela me falava muito do meu futuro, dizia que eu seria uma menina linda e talentosa, que eu poderia ser o que eu quisesse, que eu deveria aprender agora pois quando ela morresse eu deveria ser capaz de me virar sem ela. Ela dizia que eu era a flor mais bonita de todo o deserto e de todos os jardins, e que eu devia aprender com as flores a importância das fragrâncias e como usá-las... E todas as demais coisas que uma mãe diz para a filha com a certeza de que nada é eterno, enquanto a filha tem absoluta certeza de que a alegria é inexorável e nada nunca poderia dar errado. Mas a vida insiste em nos fazer crescer, e sem perguntar nossa opinião nos força a dar um gigantesco passo à frente pondo à prova nossas emoções quando menos esperamos. Pode parecer clichê, mas é verdade.

À caminho de Daerur, atravessávamos o deserto que muitos chamam de Deserto da Morte, afinal não é nada mais do que uma planície árida e quente, onde toda a vida que há rasteja ou sob, ou sobre a areia. O ar tremula ao seu redor como que algo vivo e constantemente em movimento, deslocando para lá e para cá toda a existência, a todo momento. Frequentemente o deserto lhe prega peças, e faz com que acredite que há água onde não há vida, e que haverá vida onde tudo jaz inerte e estéril. Contudo minha caravana e eu já sabíamos, a esta altura, como atravessar o deserto de um canto a outro. Cobertos por tecidos leves, nos protegíamos da poeira, montados em Cumohs evitávamos a fadiga, e viajando no auge do verão colhíamos todas as Sâmylas do deserto, mantendo-nos hidratados.

Foi durante esta viagem que minha vida mudou. Numa noite fria e escura acampávamos ao redor de grandes fogueiras, onde tínhamos assado algumas carnes que tinham conseguido caçar naquela tarde, e, enquanto dormíamos, caíram sobre nós diversos assaltantes. Eles se moviam rápida e furtivamente pelo acampamento chutando as barracas e matando os homens que nos acompanhavam e protegiam. Eu acordei com o barulho e estava sozinha numa barraca ouvindo a confusão do lado de fora. Minha mãe, como de costume, devia estar realizando alguma outra tarefa, mas ao por minha cabeça para fora das abas grossas da barraca vi logo seu corpo estendido no chão e corri em direção a ela, com as lágrimas correndo pela minha face, tal qual escorrem do orifício que abrimos para tirar a água da Sâmyla.

O sangue empapava suas roupas e a areia ao redor, uma faca jazia próxima de sua mão, e eu deitei sobre seu peito, gritando de pavor e saudade, uma saudade louca que você apenas sente quando sabe que perdeu alguém para sempre, um sentimento ácido, explosivo e incontrolável. Os atacantes ao meu redor prosseguiam cortando, matando e pilhando nossa caravana. Poucos tiveram tempo para resistir, e os que fizeram logo pereceram. Alguns se renderam e foram presos e amarrados aos Cumohs que os forasteiros montavam. Estes pilhavam e saqueavam as barracas, arrancavam jóias dos dedos, pescoços e braços dos mortos...

- Sam... - Eu olhei de súbito para minha mãe ao ouvir meu nome sussurrado. - Seja forte. - Ela disse. - Eu te amo. - Ela tentou sorrir. E morreu.

Foi então que veio a dor de verdade. Havia sentido a morte dela, restituído a esperança e perdido tudo de uma vez, num retumbar surdo de seu coração que bateu junto com o meu numa nota lúgubre de seu derradeiro fim. Não pude reprimir o grito agudo e sonoro que escapou dolorosamente dos meus lábios, e todos os que me circundavam que pareciam me ignorar olharam simultaneamente para mim, olhos arregalados e corações saltados. Os animais de montaria se assustaram e os que não estavam presos correram, e logo também o fez o restante dos homens. Deixando-me sozinha por um instante com a minha mãe e a minha dor. O vento uivou comigo e levantou uma nuvem densa de areia que apagou as fogueiras, cobriu as barracas caídas e os corpos mortos.

Cobriu a mim e à minha alegria, alegria de menina, alegria ingênua de criança lavada pelo sangue materno, pelo sangue terno. Pelo vento gelado e pelo cheiro de morte.

Eu tinha apenas oito anos.

Sentindo a minha boca seca eu acordei com um som e um cheiro que não eram comuns. Tentei abrir os olhos e o sol os queimou. Tentando levantar, meus braços fraquejaram. A areia queimava e minha pele ardia... Vislumbrei um movimento, e ouvi vozes, mas pensei que fossem as peças do deserto tentando me enganar. Mas não eram. Quando tentei falar senti meus lábios se descolarem dolorosamente rasgando a pele que os mantivera unidos num silêncio sorumbático. O gosto de sangue inundou meu paladar imediatamente e eu choraminguei. Lembro de ter choramingado.

Vi por detrás das pálpebras uma sombra se avolumando sobre mim e o cheiro ficando mais forte. Abri os olhos e vi um garoto moreno, um pouco mais velho que eu.

- Você está viva? - Perguntou ele com a voz por mudar, por detrás dos panos que cobriam seu rosto deixando apenas os vívidos olhos azuis à mostra.

- Sim - murmurei, receosa.

- MESTRE!!  - Ele gritou em alguma direção - Acho que encontramos ela!

Ele abaixou-se para me ajudar a levantar-me e perguntou-me meu nome, quando eu disse ele deve ter pensado que eu estava com sede, e estava mesmo, por que tirou de uma das bolsinhas que levava consigo uma Sâmyla, furou a casca com um dedo e verteu o líquido quase sem gosto nos meus lábios. Seu toque era calmo, ponderado e suave, não era o toque de um garoto de doze anos, como era.

Logo, um homem mais velho e de barba cumprida e branca curvou-se sobre mim apoiando-se num cajado. Examinou-me com os olhos profundos e sérios, de um marrom cor de lama que oculta segredos perigosos. Ele me assustou. E com medo eu me afastei dos dois, me dando conta de que estava deixando dois estranhos no meio do deserto tocarem em mim e me alimentarem... O menino tentou me segurar, mas o velho segurou o menino, e eu escorreguei em algo úmido e pegajoso que era o corpo da minha mãe, logo atrás de mim. Apavorada eu comecei a me levantar para correr, chorando, mas o garoto me segurou e me abraçou.

Eu estava pronta para me defender, mas o cheiro dele, o abraço dele me acalmou. E eu deixei-me cair novamente, de joelhos, chorando como uma criança, que eu era. Eles vinham montados em Cumohs esguios, cada um com um barril pendurado no pescoço. E eles me encaravam como que indagando por que eu chorava. O velho e o garoto me levaram dali. Sem trocar palavra decidiram o caminho, e, montada no mesmo animal que o menino, viajei abraçada nele durante dois dias. Eles me alimentaram, me deixaram pensar. E quando eu comecei a fazer as perguntas o menino pareceu aliviado, por que começou a perguntar um monte de coisas também, algumas das quais eu não fazia idéia do significado.

Paramos em uma caverna e descansamos lá por um tempo. O velho, cujo nome eu já sabia ser Qirin, saiu deixando eu e o garoto à sós, mas não antes de ter trocado algumas palavras sussurradas com ele. Ele tirou a máscara que o protegia do sol revelando seus bravios cabelos negros, moldura de um rosto alongado e forte, coberto por manchinhas claras por cima do nariz e bochechas.

- Meu nome é Varyon! - Declarou altivo de cima de seus cento e cinquenta centímetros. - Filho do sol e do mar... e a senhora...? - Perguntou, sentando-se, sem deixar de me encarar radiante com seus olhos que não denotavam nada além de uma alegria contida.

- Senhora? - Repeti, reconhecendo meu baixo nascimento. - Sou Sâmyla.

- Ah, como a flor! - Eu apenas assenti.

Conversamos sobre coisas, ele me contou que era um andarilho, como seu mestre, mas não pôde me dizer quem o mestre era, ou o que os dois faziam, ou o que aprendia, ou qualquer coisa diferente do que eu já soubesse. Mas não posso mentir, seu mistério me encantou, suas histórias me entretiveram, e não sei se ele estava usando magia naquele momento e adiante, mas foi à partir deste dia que comecei a tentar esquecer da minha falecida mãezinha.

Após o retorno do velho Qirin dormimos e partimos na manhã seguinte. O velho me fez algumas perguntas, e, como Varyon já tinha me convencido de que seu mestre era um bom homem e que as pessoas se acostumavam com seu olhar assustador com o tempo, eu as respondia. Ao longo da viagem eles me perguntaram se eu gostaria de ficar com eles, eu não via qualquer outro lugar para ir, contei-lhes minha história e então comecei a ajudá-los no que podia. Costura, principalmente, mas também cantava para alegrá-los, eles me contavam histórias e lendas, algumas que eu já conhecia dos bardos que tive o prazer de encontrar ao longo da vida, mas algumas que, sem que eu soubesse faziam referência a mim. E Varyon sempre tentava falar algo além do que devia e Qirin o cortava. Passei a gostar daqueles dois, e nossa história deve ser só nossa. 

Qirin ensinava-nos a ler, treinava-nos na caça, nos instruía a respeito das plantas, as comestíveis e as venenosas, dos astros celestes dos animais do deserto, nos disciplinava e contava diversas histórias, explicava-nos coisas como por que uma pedra cai após ser lançada para o alto, nos fazia refletir sobre números e nos fazia contar diversas vezes quantidades exorbitantes. Por isso Varyon o chamava de mestre. Ao menos era nisso que eu acreditava.

Ao longo de quatro anos e mais um pouco vivi com eles. Parece que o destino já estava traçado nas nossas mãos. Por mais que eu não fosse tão hábil em lê-las como minha mãe era, eu sabia que uma nova mudança estava prestes a ocorrer. E havia outras, agendadas nas confusas linhas das minhas mãos. Muitas outras. Varyon e Qirin nunca deixaram-me tentar ler as suas, diziam que era perigoso saber o futuro, e que não estavam interessados em saber os deles. Eu tentava ver os meus nas estrelas do céu do deserto, à noite, na minha mão, no vento, nas plantas, nas nuvens... queria compreender melhor o que o futuro reservava para mim.

E foi num dia de estranha palidez celeste que, enquanto atravessávamos o Vale do Caos sob uma chuva torrencial e repentina, um novo evento alterou minha vida drasticamente. Um ser negro e espectral barrou nosso caminho falando coisas numa língua áspera e aterradora. Sua voz era rascante, e, junto das pesadas gotas de chuva fizeram enregelar meu sangue. O Mestre nos parou com seu cajado, e, abraçados sob a mesma capa, senti Varyon se retesar. Vi seus olhos alertas e prontos para um confronto vindouro, como acontecia quando caçávamos. Mas agora nós éramos a presa, e estávamos em seu território.

No que pareceu um comando, o espectro, que discutia com meu mestre naquela língua que eu desconhecia, fez cair um raio sobre nós. Foi quando tudo fez mais sentido. Da explosão causada pela descarga elétrica numa barreira mágica que Qirin criou sobre nós surgiram outras criaturas como a primeira, que rodopiavam sem tocar o chão ao redor de nós, quase que num cântico funerário. Já tínhamos lidado com homens lagarto, bandidos, comerciantes, magos acreditando que poderiam ganhar algo de nós, mas nunca com os mortos furiosos.

Qirin irradiava uma tênue luz esbranquiçada, algo que eu nunca havia visto antes, apenas em suas histórias. E por causa delas, de repente, me dei conta do que ocorria. Era ele o mago branco das lendas que contava. E logo descobri que era Varyon, de fato, o herdeiro do sol e do mar. O, a essa altura, jovem rapaz retirou a capa, e numa elegante e imponente postura de combate desarmado protegeu-me das criaturas que avançaram contra nós, enquanto controlava a água que despencava do céu como se fizesse parte dela.

Eu assisti a tudo, impotente e deslumbrada, e muito assustada. Vi Varyon rechaçar as criaturas com golpes contundentes de sua magia. Qirin duelava com o primeiro Espectro lançando raios de energia luminosa em direção a ele. Mas eu percebi que eles não estavam conseguindo pará-los. Não importa o que fizessem eles continuavam avançando, mais e mais, esgotando as forças dos dois.

- Tire ela daqui! - Ouvi Qirin gritar por entre a tempestade, que parecia ter aumentado.

- Mestre o que o senhor vai ...

- Leve logo a garota! - Rugiu o velho, com sua voz estrondeando como um trovão. - Voltem! Saiam logo daqui! Vou atrasá-los!

Os espectros pareceram rir disso, pois um silvo gutural e ressonante ecoou pelo vale. Senti o chão tremer quando Varyon me puxou pelo braço correndo comigo pelo caminho que viemos. Uma luz branca fortíssima inundou o vale ao mesmo tempo que o som seco de pedras trincando, e, logo, de pedras desabando, abafaram o som da chuva. Varyon correu comigo desviando-se das pedras que caíam, mas logo ficou impossível, pois uma verdadeira avalanche despencou sobre nós. 

Novamente adotando uma postura altiva Varyon gritou algumas palavras e, com seus olhos brilhando, girou num eixo pisando cautelosamente com os pés, enquanto com os braços gesticulava num movimento que abarcava o mundo. Uma grande bolha de água se formou ao redor de nós dois aglutinando as gotas de chuva e quando as pedras caíram tiveram seu ímpeto retardado por conta da água que nos protegia. Vimos um novo clarão atrás de nós, e ouvimos o vento uivar pelas pedras que iam se acumulando nas laterais do vale.

Ao fim dele olhamos para trás e não restava mais nada, nem sinal de nosso mestre, pois a passagem que tínhamos usado foi completamente obstruída pelas pedras. Varyon estava completamente exausto, mas nos forçamos a continuar correndo, parando apenas muito depois, quando ele já não aguentava mais. Me explicou que a energia que ele havia gastado tinha sido demais para continuar agora, e não conseguiria continuar se não repusesse a energia perdida. Seu nariz e suas gengivas sangravam, sua pele estava mais vermelha que o normal, e tremores constantes percorriam seu corpo. Eu senti um aperto no coração, e senti que ia perdê-lo. Eu não queria perdê-lo. As lágrimas ameaçaram invadir meus olhos, mas quando ele percebeu ele pediu para que eu me acalmasse. Eu o abracei, ele me abraçou de volta.

Lembro do seu calor, do seu cheiro, do movimento do seu peito, da frequência do seu coração, dos seus dedos em minhas costas.

- Qirin está morto - eu murmurei.

- Eu sei - afirmou ele.

E nós dois choramos. Ajudei-o a caminhar, para sairmos da chuva. Encontramos uma grande árvore de raízes altas e nos enfiamos ali debaixo. As raízes eram elevadas o bastante para acendermos uma fogueira e nos aquecermos. Dormimos colados um no outro naquela noite, abraçados e tremendo.

Ele tinha dezessete, eu, treze.

Acordei na manhã seguinte com uma chuva moderada ainda caindo, e o calor do corpo de Varyon me aprazendo. Contudo, estava quente demais. Ele estava febril. Muito mais do que já tinha ficado quando tive de tratar de uma doença qualquer que ele já tivesse pego. Estava respirando vagarosamente, e uma expressão sofrida se refletia em seu cenho franzido, em seu lábio repuxado.

Eu tinha de fazer alguma coisa, tinha de fazer! Por isso fui procurar ervas que pudessem auxiliá-lo, encontrei e retornei para árvore que usávamos como acampamento. E ele não estava mais lá. Apenas as brasas da fogueira e as coisas que tínhamos, reviradas. Eu procurei por rastros, e não havia nenhum... e deveria ser fácil encontrar algum. Se houvesse algum... Estava chovendo, o chão estava enlameado, eu veria os rastros recentes! Mas não havia nada. Nada! Eu procurei ao redor, por um longo tempo... até me dar conta de que ele não estava mais lá. Chorei abraçada aos joelhos desesperada. Perdida. Chorei muito.

O dia avançou até a chuva parar, e, além disso, nada havia mudado. Eu estava sozinha, perdida na floresta que margeava o Vale do Caos, os sons da mata começaram a encher meus ouvidos, e a esperança já tinha escorrido por mim para dentro da terra, junto da água. Eu queria morrer, seria mais fácil se eu morresse, foi quando percebi marcas no tronco da árvore. Alguns galhos quebrados. Garras escalando... E não eram de nenhum animal que eu conhecesse.

Varyon estava vivo ainda! Seja lá onde estivesse, vivia, não havia porque estar morto, se tivesse de estar morto estaria morto aqui. Quem era ele? O que ele representava? Sorvi da terra minha esperança de volta e, com um milhão de perguntas na minha cabeça, recolhi nossas coisas.

Parti para a estrada mais próxima pela qual tínhamos passado. E estava decidida a procurar uma forma de encontrá-lo, sabia que não conseguiria fazer isso sozinha. Mas vou fazê-lo! Tenho de fazê-lo. Sou Sâmyla, a flor que traz a vida àqueles que acreditam que ela já foi perdida, e sou água assim como Varyon. Vou encontrá-lo. Tenho de encontrá-lo!

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